Até agora eu: fui feliz por um tempo em uma cidade de proporções que eu não imaginava, não ima
gino e não sei se imaginarei, ela pulsa e mesmo de longe parece viva, me chama e quando a visto ela me faz muito bem. Quando se é pequeno tudo é grande, eu e mudei para um cidade que deve ser do tamanho do meu ex bairro, por isso não senti a diferença, a cidade continuava a ser monstro, não era viva, mas um monstro enorme pra mim. E tudo era longe. Mas hoje tudo é relativamente perto, pequeno e desconfortante, a cidade parece que dorme ou jaz aqui, isso pode acontecer com elas, mas eu vivo, e cresço... Eu conheci várias pessoas, detestei várias pessoas e amei várias pessoas, quanto mais se cresce mais se percebe como o que você viveu ontem pode ser pequeno em relação ao hoje... Eu fiz várias coisas e aprendi várias coisas fazendo essas várias coisas, eu comi várias coisas e recomi, vesti e revesti, assisti e reassisti, amei e reamei, odiei e reodiei, descobri que ás vezes é preciso morrer pra nascer mais forte, então morri e remorri, e que também é preciso amar o que se odiava e vice-versa.
Conheci pessoas, fiz delas minhas amigas, e achei que gostava delas, bem, desde o ínicio, vejo agora, que nunca gostei. Amei pessoas e amei mesmo, sem arrependimento ou concisão, construí belas paixões e com algumas delas até um belo momento que parece ter durado uma vida. Pois uma vida é algo bom que você sabe que pode acabar, que você pode acabar, mas não tem nunca essa pretensão muito fortemente. Mas a vida acabou e só hoje eu jogo fora os pedaços dela. Daí você vai e encontra outro jeito de viver. Fui abandonado, fui readmitido, achei uma nova pessoa pra construir uma vida ainda maior. Planejei tudo como alguém que monta um complexo dominó, eu sabia que ia dar certo. Mesmo que termine sua obra nunca deixe de construir nela sempre, ela pode ir desmoronando e se acabar por ela mesma, ou... alguém pode fazer isso por você, então, o que você levou meses, dias, horas de esforço, alguém vem e derruba com alguns minutos. E te faz passar raiva, solidão, tristeza, saudade, e logo se matar de sentimentos depreciativos, você vai e morre de novo, tudo isso foi péssimo e te deixou mais forte, faz o que tem que ser feito, deixa tudo pra trás. Conheci músicas, cidades vizinhas, lugares bonitinhos, a desnecessidade de um ídolo, de uma sexualidade, de um freio qualquer. Ganhei então um gosto visual, um gosto estético pra mim, uma subcultura e um gosto musical e literário. Aprendi o preço das coisas. Fiz coisas inesquecíveis, divertidas, chorei e acabei com o dia da pessoa que era minha vida, acabei com a pessoa da minha vida. Fui feliz, fui triste, fui inxado de tanto chorar. Encontro o que eu realmente preciso em outra pessoa, tenho um sentimento ímpar por ela, sofremos, choramos, vivemos ainda que longe estamos muito perto. E de quebra uma pessoa que não significava muito pra mim consegue se tornar uma das pessoas que eu mais amo, uma das minha únicas ligações com o mundo que eu abandonei e uma fonte de divertimento e chateação infindável. Podia eu estar agora no meu conceito atual de total niilismo. Como esta mais alguma? Sim, por onde andei arranjei outras, pra brigar, rir, inventar moda, ver meninas insosas, pra não dizer horríveis, pedirem pra ficar comigo e comer torcida de um sabor abominável. Mas eu realmente devia ter parado em “um monstro enorme pra mim”, quero uma cidade que me assuste, que esteja viva, que me surpreenda todos os dias, pessoas que saibam seus lugares, ou seja, de estranhos ou amigos, quero minha inocência de volta. Quero aquela criança balançando na rede colorida com o maior urso da prateleira ao lado, e um relógio que ganhou de presente dos pais que tanto ama. Cheguei até aqui e descobri que a quero de volta. É só isso.