Por Mariana Pires e Gustave Caligari
Não, ninguém estava pensando aqui que seria agradável beber
sangue daquele que lhe envolve a alma ternamente. Tampouco ninguém estava
conversando nessa linguagem ultra romântica num reles chat de boa. Falávamos, dentre outras coisas, de Anne Rice, e nossa frequência
amorosa. Se resume em nós sermos
“largados”. Falávamos mesmo sobre nossos relacionamentos e por que incomodamos
nossos parceiros.

Nem todo mundo precisa de alguém sempre grudado, aliás, nem
deveria. Nós temos lá uma semana de caramelo e duas de I want to be alone.
Concordamos que somos até bastante românticos (sentido amplo, não o byroniano,
gente), sei lá, gostamos de flores e alianças, pasmem. Talvez sejamos os últimos
românticos, por que o Lulu Santos está ocupado com seu projeto urbano de reunir
a zona norte à zona sul. Mas nossos amores nos acham os primeiros egoístas. Pra
nós está tudo ok, por que queremos sossego e não ter razão. É preciso entrar em
um acordo, despertar pra essa realidade, numa relação. Mas principalmente
quando ela já entrou em bodas. Quando o casal já não é mais aquele do começo, e
não fala com as pessoas como se fosse um polvo de duas cabeças, sabe o polvo de
duas cabeças; que lambe a si mesmo? Daí cada um pode dar atenção a todas as
pessoas que estão em volta. E depois começa também uma fase de permissividade
excessiva e tem gente que não sabe lidar com isso, se sente abandonado, queria
ter a namorada que reclama quando ele sai com os amigos, queria ser a namorada
que recebe todo dia um cestinho cheio de ciúmes dos amigos. Um pouco de ciúmes
é natural e saudável (?), mas tem caras que invejam a namorada do outro que não
deixou este sair, enquanto a dele ousou ainda lhe alvejar com um “divirta-se”. O
que é, inclusive, a mais bela e singela forma de insegurança emocional. Do
outro lado tem a abandonada desregulada,
que fica louca, paranóica, ciumenta, põe areia no escapamento do carro do
fulano, queima roupas e afins. Não é a toa que paixão já foi diagnosticada como
perturbação mental. Ou vocês realmente acreditam que os byronistas eram
normais? Ora, faça o favor! Se acreditam ainda, se retirem o quanto antes, pra nós
byronista é sinônimo de louco.
Ah, sem falar no assunto mais delicado, “traição”. Nessa altura da vida já não acreditamos nessa palavra. I’m human and I need to be loved, já diria o The Smiths, mas ser amado e ter nosso espaço. Geralmente as pessoas traem justamente por que acham uma pessoa que dá atenção. Don’t be ridiculous, don't be this person, tenha dó, não mereces o afago nem de deus nem do diabo. Pô, respeito aos tesões, a isso não. Respeito ao desejo, mas essa de ficar pra ver se consegue ali uma segunda opção, tenha dó, bemol e sustenido.
Venha a cá, venha aqui pra balançarmos as mão na sua frente e dizer ESSE CIÚME TODO É UMA ILUSÃO PELA SUA CRIAÇÃO MONOGAMICA CRISTÃ OCIDENTAL UUUH.
Ah, sem falar no assunto mais delicado, “traição”. Nessa altura da vida já não acreditamos nessa palavra. I’m human and I need to be loved, já diria o The Smiths, mas ser amado e ter nosso espaço. Geralmente as pessoas traem justamente por que acham uma pessoa que dá atenção. Don’t be ridiculous, don't be this person, tenha dó, não mereces o afago nem de deus nem do diabo. Pô, respeito aos tesões, a isso não. Respeito ao desejo, mas essa de ficar pra ver se consegue ali uma segunda opção, tenha dó, bemol e sustenido.
Venha a cá, venha aqui pra balançarmos as mão na sua frente e dizer ESSE CIÚME TODO É UMA ILUSÃO PELA SUA CRIAÇÃO MONOGAMICA CRISTÃ OCIDENTAL UUUH.
Não bastando este maldito amor liquido e ainda vêm com a tal
da amizade liquida pós-relacionamento. Entendam, yo no quiero ser tu amigo, yo
no quiero being nice. É portunhol espanglês pra ver se me entendem, já que na
língua materna não processam. Se o amor dissolveu, virou gás, foi pra
atmosfera, não seria uma pseudo-amizade sadia que ia salvar. This is called SECOND OPTION. This is called
remember. Que é o fundo do poço. Acabou acabou,
enfia um ponto final com caneta esferográfica e para de se lamuriar, ver fotos,
cheirar roupas, mandar mensagem alcoolizado. Aproveitem e comprem uma dignidade
novinha no mercado livre com desconto de 25%, a vergonha na cara estava por um
preço baixíssimo na Americanas esses dias aliás. Se tudo isso citado e
condenado acima funciona pra vocês, talvez esse amor ainda não
tenha derretido ou sempre foi liquido. E de amor e liquido eu já estamos
cheios, principalmente nesse calor horrível, muita água de coco e muita
hidratação.
Onde os vampiros entram nisso, oras, quem nunca leu Entrevista
com o Vampiro? Ah, você, ótimo, tinha que ser. Não importa. Se você não gosta
de ler veja o filme. Ou o recente Only lovers left alive. O que tem a ver se
resume na pergunta: o que você faria se tivesse que passar O RESTO da
eternidade com alguém, dado que você tem... A ETERNIDADE? Será que não
enjoaria, não se distanciaria, e se, tal qual o amor de Lestat por Louis, ou
Gabriele, ou Adam e Eve (não por acaso os dois vampiros do filme Only lovers left
alive se chamam Adão e Eva, o filme está cheio de humor sobre seres que vivem
para sempre, se você for um mínimo esperto, tem um certo nível cultural você
vai achar que é basicamente um filme de humor, assista, é com o Tom
Hiddleston, é aquela porcaria de Loki, naquele filme porcaria que você conhece.
E Tilda Swinton, a impecável Tilda Swinton. Essa mulher não, ela não erra
hehehe), você pudesse se dar uma folga, rodar o mundo, passar as décadas e
voltar com saudade faminta, como quem tempera comida com a fome? E você vai dizer
que não tem a eternidade, sim, e engenheiros não fazem plantas do tamanho real
de uma estrada, é só criar uma escala, reduz séculos ou décadas para meses ou
semanas. Talvez isso resolveria nosso vai e vem de namorados, aquela saudade
maligna do ex que você sente. Aquele temor e querer do namoro a distância. Amor
de vampiro, esse amor que não vive de aparência, de jogo de possuir, de
controlar, de vigiar.
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